domingo, 25 de fevereiro de 2024

Domingo ardendo

Hoje é um diazinho bom pra contar esta história. Era domingo. O sol ardeu dia inteiro, dia inteirinho ele foi esquentando, esquentando, até que o arremedo da arruela do meu carrinho derreteu. A gente passou a semana inteira trabalhando naquelas geringonças e, quando terminamos de pregar os rolimãs, eu tive uma ideia. Cada um de nós tinha o seu, indefectíveis todos sabíamos qual era o de cada um. Mas eu queria deixar uma marca própria no meu. Foi então que com algum formão improvisado eu talhei, bem no bico, um símbolo. Eu não tinha leitura de mundo formal, o que eu ouvia nas ruas eram as piadas que se faziam sobre a História. Fulano foi ruim, Ciclano foi pior, Beltrano então... Seu cu na minha mão... Eu nem sabia o que cada um daqueles personagens históricos tinham feito para receberem aquelas famas. Mas eu era moleque e frequentava a escola, e eu queria ser pior, pior não, o pior. Pra demonstrar a minha intenção então eu fui talhando o que eu queria que parecesse uma suástic4. Mas eu era tão ingênuo que, depois de terminar o serviço, não me lembro quem notou que eu tinha desenhado era apenas o numeral 7, em cruz, e não o contrário. Não que já fosse o prenúncio do meu antifascismo, nem o ante-fascínio de não só negar, talvez fosse apenas um antídoto que eu imaginava que servisse pra eu não ficar muito atrás dos meu amigos, que, mais experientes, faziam manobras muito mais radicais. Eu só queria respeito, porra! Daí então, no alto daquele morro que sobe pro Cruzeiro, o asfalto novinho, eu percebi que o plástico que estava segurando o eixo da frente tinha amolecido. Eu já tinha descido algumas vezes, mas eu não quis parar. Pois eu desci. E foi a descida mais louca, pois a folga do eixo me dava margem pra virar e revirar, revirar e virar de volta. Até que um infeliz, no sentido de alguém que ainda não estava contente com a sua performance, um desgraçado, no sentido de sem graça mesmo, ameaçou de entrar na minha frente. Pra quê! Eu já estava com mais velocidade e não tinha como frear, o mínimo desvio que eu dei e o carrinho me jogou pra sarjeta. A minha sorte foi que eu usava um boné de couro que minha tia tinha me trazido pra mim de San Francisco, se não eu ia me escalpelar todinho o cabeção. Ralei todo foi o ombro, a clavícula e um pedaço das costas. Até que nem estava ardendo até quando eu cheguei em casa e meu pai, me fazendo sentar no chão, me deu um banho de álcool. Acho que era uma lição que ele queria me passar. Se eu entendi bem, é mais ou menos assim: você não se torna um genocida fazendo cosplay de outro. Mas você podia ter se machucado, e ou machucado alguém, seu filho da minha puta!

sábado, 24 de fevereiro de 2024

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